sábado, 23 de julho de 2011

Efêmera
(Ricardo Duque)

A gente só existe enquanto fala,
Por isso morremos todos os dias...
Quando escrevemos ou falamos palavras
Que aprendemos a cantar desde a antiga infância.
Enquanto falamos, deixarmos o verbo para traz...
Assim, me derramo enquanto escrevo,
Para morrer aos poucos depois de sublimar, secar.
Por isso agora escrevo,
Para existir além da poesia que faço.
Inventando a minha forma de viver.

23/07/11



terça-feira, 12 de julho de 2011

Barulho
(Ricardo Duque)

Quero fazer uma canção de amor
Para acordar o mundo de madrugada...
Romper o seu silêncio ensurdecedor
Com o meu amor...
Cantarei em voz alta sem banda sem nada,
Para que em algum lugar, a voz que não me cala
Durma em teu ouvido amor nesta madrugada.
Ai tão longe que chegue baixinho...
Todos os versos pra você dedicados
E vê se dorme depois disso,
E me canta de manha como foi o sonho comigo
Tocando aquele disco, nossa musica,
 Na vitrola em tua casa.
               
13/07/11

Goma

(Ricardo Duque)

Sua goma esquecida embaixo da mesa,
Passou de massa, para cefálica
Fecundou no plasma, oco do coração
E com vida foi-se embora,
Rasgando de si, a emoção.

Cansou de ser a atrasada notícia.
Aquela que de última, é fria e sem ação...
Que seu de tempo, a razão
Congela o ar de agora.

Cansou de ser o escuro em tua memória
Que na velocidade da luz,
Desfez-se na falácia de tua lembrança
Onde matas aos poucos os sonhos,
E ludibria o sentido das horas...

Que de tanta espera ressecou, endureceu...


O jarro.
                            (Ricardo Duque)

O que é um pedaço de barro moldado
Que se despedaçou?
A lembrança de uma flor morta
Que nele morou?
A lacuna de um espaço por ele deixado?
Ou a necessidade de alguém
Que por ele chora seus cacos?

                                        11.02.10  

Amando...

(Ricardo Duque)

Chamo de amor isto que trago no peito.
Latente as entranhas que anseiam desejos...
Ocultos a lua, face minguante do sol.
Que durante a noite, fazem-se dia em teus olhos...
Penso que quando existo em tua memória!

A lua, esta que alto brilha
Responde as mudanças do meu corpo,
logo ao teu, também o mesmo plasma,
Unem-se indubitavelmente às mares do mundo.
Para inundar-nos na certeza do amor um do outro!

Quero de perto olhar-te, e aqui no estomago,
sentir o frio balé das asas de mil borboletas...
Estas aqui em mim, polinizando o teu néctar.
Enquanto busco falar-te à boca,
O silencioso toque de minha língua.

E amar assim verdadeiramente o tempo ao teu lado...
Fazer das horas nosso brinquedo!
Meu tempo doado ao teu será somado;
nesta vida a dois de amor e segredo.

09.05.08
Guarda-coisas...

(Ricardo Duque)

Toma minha cabeça numa caixa,
minhas memórias, inteligência...
Minhas informações num caixão!
Guarda o meu passado em teu guarda-roupa.
pendura em teu cabide
A saudade de quem fui...
Dobra minhas lembranças
Em tuas gavetas,
Como aquela velha camisa sem uso
Cheirando a naftalina, abandono...
Cujas traças não ousam tocar...
Faça de mim aquele velho urso,
Cuja pelúcia acumula os ácaros de teu tempo,
Que no passado fora meu amigo de infância,
Onde eu jurava acreditar que me ouvia...
Vá! Aqueça teus pés úmidos com aquela velha meia,
A mesma que eu permito que me pises,
Enquanto dormes!

29.06.08
        

domingo, 10 de julho de 2011

Amorzinho.

(Ricardo Duque)

Não é a Rua de Matacavalos,
Mas é a mesma rua...
Cujos ladrilhos de pedra faz reto e transeunte
O acesso de nossa vizinhança!
Não é o muro que nos separa, é mais que isso.
Do muro se tem acesso ao outro,
Se for grande basta à escada e vir!
É o infinito...
Este separa a coragem da covardia.
É o infinito...
E para isso, não há nada que se diga!
                        

Um Minuto

(Ricardo Duque)

Eu sou o ser que traz em si
Essa consciência.
Sou eu o ser no mundo.
Existo nos fatos que crio,
Eu sou o rio que não para de passar.
Sou oceânico; eu sou o mar...
Eu sou a voz que ouço em silêncio,
Eu sou o tempo e meu juiz de fato!
Sou esse e aquele retrato
Distribuído nas paredes da memória.
Percebido pela vida aqui em mim agora.
Sou eu o desejável dessa consciência
Que deseja todo sentimento,
Eu sou o tempo, o vento.
Que pode ser lembrança ou
Inconsciente de uma história.





Vela.
(Ricardo Duque)

O escuro não tem cor...
Apenas sombras com gestos repetitivos.
Que revelam memórias nos sentidos,
Do passado que se foi, que se passou.
Atropela-se em fim, no escuro
Nos objetos e nos conflitos...
Que fazem do somático o psíquico,
A maneira doce de sentir dor.
Eu quero luz!
Para dar cor a os sentidos,
Para ter sonhos coloridos,
E ver nos olhos humanos amor...

               04/05/2010

Minha Mulher...

 (Ricardo Duque)

Existe uma mulher, uma perola.
Cujas rijas tetas, amamentam fantasias...
Fecundando sonhos dentro do ventre.
Que com vida deixa ser o que se é, sempre!

Esta, que a pupila dilata quando sente.
As flores de sentimentos, bordados em seu vestido.
Primavera de amores quando nela vivo,
E gozo, salivando a boca molhada e quente...

Enquanto me deleito emaranhado em seu corpo.
Após convicto do transe à pele inundada,
Contigo mulher adultera, e por mim amada,
Que sai de mim para à boca de tantos outros.
-A Poesia!

03.09.08

sábado, 9 de julho de 2011

O Silêncio dos Olhos

        (Ricardo Duque)

Prepara o teu silêncio
Que de retorno te dou a minha ausência
Para depois nós lamentarmos em nós
A desculpa de nossa covardia.

A porta bateu em nossa cara
Na casa que é tão minha quanto sua,
Más que nos tranca, quando esquecemos quem somos,
Num desengano desigual de pensamentos.

A chave do teu armário está comigo.
Num cadeado permanente de palavras
Que nos acusam no silêncio dos olhos
E nos magoam, quando choram por culpa.
Amem!
Por Ricardo Duque.


Qual é a palavra de Deus? Ele escreveu alguma coisa que eu ainda não vi? Quem souber me diga que estou ansioso pra conhecê-la. Deve está em algum museu da Europa? Ou na sacrossanta biblioteca do Vaticano? Tolos. São os humanos que dizem conhecer a tirânica palavra que apenas serve pra eles julgarem uns aos outros. Fazem de algo inexplicável, a sua imagem e semelhança. Assim como no egoismo também. Esse Deus que eles dizem estar na maldita palavra foi escritos pelos homens. Não vejo Deus nisso, vejo homens. Deus é algo que não se escreve, se sente. Deus não o castiga, ele é amor.
A finalidade do ópio que reflete a mais tênue droga nos está naqueles que se dizem cristãos. Ópio este, que se percebe como bactéria fermentada para o canibalismo simbólico em comer o pai em nome do pão e do vinho. Algo bastante Dionísio não? São estes que alienam o homem a um misero nada. Fazendo estes competirem entre si o mais fabuloso terreno no céu. Existem lotes sendo disputado a dízimo, como quem leiloa uma mansão. Aquele que oferecer mais tem direito a ter o Nazareno como vizinho. Agora, cadê este que se ofereça a ser pregado na cruz? Simplesmente não existe! Os seus joelhos já lhes são demais para tanto. Basta! Afinal, Deus já deu o seu cordeiro para o olocausto. Essa é a desculpa para tanta falácia. E de resto vivem pregado espinhos ao invés de amor, pregando o ódio, disputas, medo, inveja cobiça, injurias... Chego a me perguntar, - quantas coisas pregam esses coisas? São coisas do tipo: papai do céu briga! Quando mais velho: Deus castiga!
Mas isso vem de muito longe, desde quando Paulo perseguiu Aquele que depois ele, sutilmente usou para camuflar suas palavras em seu ódio através de suas cartinhas. (Como é que um cara que prega o amor pode ser tão contraditório ao mesmo, pregando também o preconceito, de seu conceito, quanto aos homossexuais?) Usou de sua filosofia para escrever o que se deve e o que se não deve. Como se não existisse consciência e/ou responsabilidade para isso! Assim, todos os miseráveis de alma, que vivem no vazio de sua existência podem encontrar conforto, na redenção vil das cartas desse apostolo demagogo. Tristes almas vendidas por tão pouco! A barganha é justamente o contrario da salvação: a frustração. Aquele que se limita ao sonho do outro de fato está perdido em sua existência. Não vê o que realmente significa a dimensão de Deus, ou, Deusa.
Agostinho – prefiro o Agostinho ao santo-, perguntou uma vez: “o que é que eu amo quando eu te amo”? Já Nietzsche afirma em seu magnífico aforismo que “ama-se por fim o desejo, não o desejado”. Com isso temos a consciência clara que, o que amamos somos nós mesmos projetados nos outros. É o ser perfeito que criamos para sermos felizes. É o meu ponto de vista que dirá de mim o quanto ser belo. Contudo, o pecado, o feio, o dantesco está nos olhos de quem vê. Ou seja, em nós com o nó da noia que muito nos apraz. Assim criamos fragmentos de perfeição de nossa própria existência, para dar vida ao que não se explica. De fato, subjetividade não se explica no mínimo se entende. Sendo assim, sou Eu na tentativa de ser perfeito que me comparo e me frustro diante da grandeza que existe na natureza. Na pura beleza de reinventar um mundo que caibam as minhas filosofias...
É tão sutil que ninguém percebe que o simbólico ordena o próprio significante, que diz que Deus expulsou Lúcifer do paraíso (para quem não sabe Lúcifer que dizer: aquele que carrega a luz, o primeiro) por inveja e desobediência. Não se expulsa o sintoma em si mesmo  por desobediência, por querermos pensar e refletir sobre a nossa verdade, sobre a nossa existência, no Maximo o que se faz é convidar o sintoma, ou satanás como queiram, para reinventar uma maneira de ser feliz com o fenômeno em si. Sair dessa caverna sombria como disse Platão. Onde o direito de pensar, segundo a palavra tirânica, está tão somente dado ao Pai todo poderoso. Onde todo o dia nos julga cheios de falhas e pecados. Quer inferno maior que este? Mas isso não basta para o viciado em culpa, ele quer mais... E terá segundo sua crença em valores desvalorizados no arcaico anacrônico da palavra que ele mesmo criou para desonrar a grandeza da Natureza de Deus. Chamo isso de gozo!
 Humano limitado! Prefere a sombra dos gigantes para se refugiar. Assim muitos se apresentam como belas orquídeas, mas na verdade fazem o papel do carrapato, representando verdadeiros vampiros de alma, a fim de um eu-alienado para dar vida aos demônios que eles criam nos vazios das cabeças em massa. É preciso negar o cristianismo (ismo, é sufixo que representa doença, de pequinês), para enxergar Deus em sua verdadeira essência. Assim fez Darwin, homem sensível aos olhos para com os fenômenos naturais, que muito contribuiu para a sua “Teoria da Evolução”, que só foi possível trabalhar nela quando ele observou o lado funesto da vida, viu na mais simples bactéria, a própria evolução da vida. Como também Freud, para a descoberta do inconsciente, onde a Psicanálise nos convida a reconhecer os demônios que existem como dentro de uma caixa escura, cheia de escorpiões, que habita dentro de nossa negação dos fatos, de nosso imo. Como pode um ser tão puro ter desejos tão imundos? É simplesmente fascinante! E o próprio Nietzsche, estudioso das falácias filológicas que contribuíram para o entendimento frente a alienação em massa desse rebanho com rédeas, seguidores do cajado que divide águas e mata.
Por isso, negarei a mais este clube de neoróticos, para ver Deus viajar no Trem de Vila-Lobo, contracenar nas novelas de Dostoiévski, amanhecer como inseto na obra de Kafka, e nos versos efêmeros da poesia de Augusto dos Anjos. Quero ver Deus nas arvores dando frutos, no extrativismo dos índios e pequenos camponeses, no bezerrinho que nasce no rebanho de um pequeno produtor de leite, nos passarinhos que cantam livremente de manhã em meu pau-brasil, na chuva que atua, e na tempestade que mata.
A religião é como um quadro, uma visão muitas vezes bonita, mais um tanto perigosa. Imagine colocar tudo que se quer dentro de uma única tela, foi isso que Miguelangelo fez no teto da capela cistina, recriou o criacionismo e só. É justamente isso que fazem as religiões, limitam Deus num quadro com formas humanas, a fim de ser ele, de ter poder de manipulação supondo ser do desejo Dele. É tão somente assim que quando Deus acaba morrendo em sua pequinesa como todos os mortais.
Isso é, compreendemos Deus sendo Deus e o diabo ao mesmo tempo. Foi isso que nos foi ensinando diante das sinagogas, a respeito de um pai furioso e castrador, que impossibilita o outro de sua natureza, de sua divindade. Aprendemos a temer a Deus e não a admirá-lo. Sendo assim, a grande maioria vitoriosa corrobora para que os pilados de alma se postem diante do vazio de Deus para louvar o dogmático, as próprias correntes sublimadas naquilo que o homem atende por fé. É exatamente isso que a religião faz, comprime o outro prometendo a maldita salvação como se isso fosse possível pelos prometedores. Não meus queridos, destronamos a lei, o significante pai mora no simbólico que mora em você. É tão somente a consciência que tira o sujeito fragmentado de seu próprio abismo, podemos chamar também de caos.
Nesse caso aconselho que vejam seu redor, se é possível sublimar o desejo? Acredito que não. Mas podemos inventar outra mineira de ver o que desejo. Mas existe gente que afirma levar uma vida zen, como? Como pode alguém ser plenamente feliz como afirmam muitos, se quando eu recalco o que eu mais desejo eu indubitavelmente sofro? Temos aqui um paradigma! Ou seria mais uma mentira? Pode ser, mas o gozo traz o real que não explicamos e não entendemos, e a este real, os alienados chamam de satanás.
Por tudo isso eu fico com as palavras de alguém que existiu, que teve Deus em suas ações, homem simples, tido como louco para a ciência e o cristianismo. Seu nome é Chico Xavier, e ele diz que “ninguém pode mudar seu começo. Mas, todo mundo pode começar a fazer um novo fim”!
Que Deus seja simbólico convosco!

Qual o valor da vida?
Por Ricardo Duque.

Começo chocado com um depoimento de uma adolescente desconhecida de uma determinada escola publica do sul do país, que esfaqueou sua colega de classe dentro da escola com o obvio objetivo de matar. Seu discurso é frio, sem arrependimentos, típico de jovens perverso, que abomina o real significado de lei, de moral e de princípios básicos de se viver em sociedade.
A perversa:

-Tem que morrer essa safada!
-Eu cheguei... Esperei ela no intervalo, encontrei no corredor... ai foi daquele jeito.
-Por que você fez isso dentro da escola? -pergunta o reporte-
 -Pra todo mundo ver! Queria ver ela no chão estirada. Eu pensei que ela não ia morrer, mas ela morreu...
-Você não achou que ela ia morrer? - pergunta o reporte-
-Não... eu queria que ela morresse mas só que ela não morreu na hora, ficou dez minutos ainda viva... ai depois que ela morreu! ...Por que não da nada matar sendo de menor... três anos passa rápido!
- E a vida dela? -pergunta o reporte-
- Ah! Um dia ia acabar mesmo... eu só adiantei...

Como podemos perceber, a jovem que cometeu essa barbárie, não demonstra nem um arrependimento quanto ao crime cometido, alem do mais, seu discurso é dito com certo tom irônico quanto à vida do outro, sem respeito à vida, como algo banal, ela quebra todas as regras básicas de valores pra se viver em sociedade. E sem culpa vive o perverso.
A relação com o tudo pode, o Outro deixa de ser ou ter valor numa sociedade que tudo é permitido, onde a delinqüência ultrapassa a fronteira da moratória e cai no abismo da criminalidade. Para obter reconhecimento e respeito dos Outros, esta jovem mata na escola “pra todo mundo ver” que ela é quem determina se este ou aquele deve viver, uma vez que o Estado tem leis que corrobora muitas vezes para a criminalidade dos que vivem a margem da sociedade. Apesar de ser algo de ordem publica, não é meu papel aqui trazer as questões falhas do Estado, e sim, o discurso de uma jovem perversa, ou, transgressora de sua própria existência que mata a fim de ser reconhecida pelos seus.
De forma desordenada a imagem torna-se um significante perigoso em nossa sociedade, cujos valores reais estão subtraídos na relação de poder, ou de quebra de poder. A fim de exaltar o hiper, o jovem perde o controle de seu desejo sucumbindo ao mesmo, transgredindo a ética, vivendo a supremacia da autonomia individualista. Imposta pela sociedade, onde a relação com o objeto torna escravo o sujeito que sucumbe sua subjetividade ao demasiado. Esse paradigma simulacro vem do “é proibido proibir” que foi muito vigente nos anos 60 e 70, escondendo o real que não se apresenta no adolescente. É sabido que é normal o adolescente ter com os pais um conflito por não se submeter a sua moratória, o que não vejo como normal é a transgressão que permite o mesmo agir de forma patológica.
Assim, o pavor de Freud em O Mal-Estar na Cultura, confirma a sua tese de que os limites não estão mais nos dias de hoje em voga, onde ele diz que “também é possível afirmar que quando a criança reage às primeiras grandes frustrações dos impulsos com uma grande agressão excessiva e uma correspondente severidade do supereu, ela segue aí um modelo filogenético e vai além da reação atualmente justificada, pois o pai da pré-história certamente era terrível e a ele se devia atribuir à medida mais extrema de agressão.” [p157] Certamente as reações dessa jovem vêm trazer à tona a morte de uma lei, a imposição de um falo simbolicamente ausente, que diz que esta, por causa de uma discussão numa determinada festa, se manifesta violenta em sua frustração. Logo, pode-se dizer que a ausência de culpa dessa adolescente corrobora com uma estrutura perversa, utilitária, que diz até quando o Outro presta pra si.
De forma desprezível, o descarte humano vem sendo a grande angustia que traz na realidade atual a venda da imagem perfeita dentro da realidade de cada um, quando este jovem se ver sem o tênis da moda, ele mata quem tem pra ter, apropria-se do alheio para estar na moda, tira a vida do outro pra se apresentar nos seus com respeito -prefiro dizer temor-, e assim vive uma vida de regresso... Qual o real valor da vida? E quem são esses pais ausentes?
  



sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Muro

         (Ricardo Duque)

O muro isola, mas não defende,
Espalha-se constantemente.
Separa alguns lugares,
É de arame em  presídios e cárceres,

O muro dita territórios vis,
É ruína em Berlim.
Degreda se não cuidamos,
São de pedra como os humanos.

O muro também é sagrado, frívolo,
É o penhasco dos vivos.
Encapa toda gente,
Edifica o imponente.

O muro dos pássaros, membrana e casca.
Dos escravos, outrora senzala.
Dos rios, veias de pontes,
Do cérebro, derrame.

O muro da cor, desatenção e cegueira,
Das fadas, bruxas, feiticeiras.
Do querer, paciência, espera,
Do saber quem me dera.

A MENTIRA

         (Ricardo Duque)

A mentira é o ácido
Que corroem a verdade,
Comendo um todo, por partes.
Como um câncer apaixonado,
Enraizando em seus piores pensamentos.

A mentira encoraja personagens,
Corrompe seus atos ao desengano,
Que de tão banal vivê-la,
Matamos com a mesma;
A quem amamos.

A mentira decepou seus membros
Implodiu tua fala, acorrentou seus gestos.
Tragou teu sorriso ao cinismo;
E teus olhos a um amargo mistério.

A mentira encravou em teu rosto,
A mascara vil dos covardes.
Escureceu teus olhos de negras lentes,
Más sucumbiu quando não soube,
Enxugar tua face.
Carta ao Pai.
                     (Ricardo Duque)

O cotidiano nos mostra que entre
O sonhar e o estar dormindo,
Somos o paradoxo entre eles.
Somos reais em estado onírico.
Dessa morte noturna dos sentidos.
Para a metáfora que implica o sonhar.
Enquanto durmo, ostracismo,
Deixo, esqueço por uns momentos, vida em relacionar
Para encontrar com lembranças vivas,
Dos que mortos estão,
Que no sonho vivo de perto,
A impressão de ver, sentir, olhar...
Puro sentido, saudade de quando...
Embora sonhando, por saudade encontrando,
A criança que dorme volta a acordar.
Abraçando no sonho, quem na vida esqueceu-se de amar!


QUNTO A MIM , NÃO VEJO COMO O RESTO DO MUNDO, MAS ESTOU NO MUNDO EM QUE MINHA GESTALT É INCOMPREENDIDA!
Infância Adulterada.
(Ricardo Duque)


Que mulher é essa que me aliena,
Que cola em mim como se fossemos um.
Que mal eu fiz a ela pra tamanha covardia?
Quantos costumes ruins eu vejo em mim, seu olhar!
Preso uma dicotomia fálica vivo eu falindo...
Despotencializado no caos de minha frauda,
Completamente úmida de urina, merda e esperma.
São fragmentos de uma má educação,
Completamente analfabeta no dialogo.
Não há palavras que decifre a razão do blá blá blá...
 Agora eu sei o porquê da canção “... neném vai apanhar!”

04/07/2011

Gari...


Meu corpo exauri fadiga e odor.
Robótico, ao capitalismo do meu tálamo,
Perpassa passos na macrocefalia urbana.
Marginal de uma Polis acéfala.
Eu, marginal à vós obstinado à ordens,
E sem progresso, não se sabe quem manda!
Cabendo a mim teus podres restos.
Carnificina deste ofício; maratona...
Que de vós, nem honra, nem mérito!
Apenas coleto, o ônus de vossos restos.
E deste resto que vos sobra sem valores,
Vivo eu cá, miseravelmente como minha gana.
Infalibilidade do meu tempo escravo a vós
Sendo eu livre, transeunte de vossas calçadas,
Coletando restos de minha negra alforria.
Teu preconceito ensacado diante das sacadas,
Endereçado à mim, sem endereço.
Que vivo as margens do oposto do teu lago, a lama!
15.05.08
(Ricardo Duque)